CORPOS, APENAS CORPOS
Corpos são corpos
Estejam vivos ou mortos
Cheios de ouro ou farrapos
De pretos, brancos, mulatos
Usando colar ou anel
Seja doutor ou bedel
Na mescla de tanta cor
Todos têm o seu valor
Ao olhar puro do céu.
Adoentados, cansados fracassados e fadados
Amontoados e frágeis
Frágeis como as filigranas
Dentro de casas profanas
Simplesmente desejáveis
São esses corpos cansados
Extravasando vivência Mostrando nossa existência
E com porradas na cara
Como se fosse jóia rara
Num tempo sem consciência.
Assim como as pedras duras
Vão escondendo amarguras
Resistindo sobre a Terra
Sobre a colina ou a serra
Cheios de vícios e agruras
Da água, um gotejamento
Seu martírio, seu lamento
Seu grito surdo, profano
Como deixasse de ser
Apenas um ser humano.
Na dor da sua prisão
Em pedaços o coração
Em frangalhos, sua alma
Na roda viva e na calma
Vão buscando evolução.