LIMITE DE MIM

PARTE I

Brincando com pedras

Ouvindo risadas

Sorrisos nos meus ouvidos!

Estava eu sozinha

Com meus amigos que só eu os ouvia

Como podia estar diante do nada

E entendendo sua alegria, eu não sabia

Só sabia que estava divertido; nunca pensei ser

O começo da minha história de fragilidade

Do meu limite mental, tal qual um cristal de neve.

Que pequena eu era, que grande sofrimento por vir me consumiria.

Então, numa noite eu dormi

Vi aquilo na minha frente

Eu parecia estar doente

Grácil e descrente

Do que via na parede

Do meu quarto cheio de rabiscos fortes

Como traços de desespero assombroso.

Que nojo!

Então vi e no momento: não acreditei!

Estava lá, diante de mim, o inferno das

Almas perdidas e sofridas.

Garras vermelhas

Escorrendo vermelho numa

Altiva risada má! Medo, foi sentido, pois a

Sede pela minha alma.

Tadinha, meus dentes só tremiam

Um corpo ao meu lado

Resquício de um horrível passado

Ao gritar: tudo estava lá...

Normal, paredes brancas, cama ... tudo.

Família correu, que foi isso? Nem eu sei.

Cresci, por quê? Por que o tempo vai

E a gente tem de ir atrás.

Noite fria, vento nas telhas...

Dormia com meu ente, meu

Feliz irmão. Mate-o, ouvia.

Tão criança, por que logo eu

Eu que nada nesse mundo entendia

Mas tive de ouvir com vozes claras

E lá eu estava a chorar até repousar.

Fui aumentando a idade, mais ainda

Ferocidade a me consumir.

Choros descontroláveis por nada

Sentimentos incompreensíveis

Um turbilhão de pensamentos, minha mente delicada

Foi tornando-se finita.

Graças a Deus, pude aprender a escrever.

Porque assim criei um jeito

De me ajeitar por dentro.

E foi assim, que escrevi, aos sons

Sussurrados em minhas orelhas

Um perfumado livro “aperriado”

Até hoje, nunca publicado.

Talvez jamais o seja...

Escrever se tornou uma paixão

Cada escrita um rasgo vindo do coração.

Livros, versos e tudo que existe em mim

Se exteriorizou por aí. Que belo refinamento.

A arte é algo presente na minha mente

Desenhos, poemas e tudo que expressa meu pensamento

Mesmo com lágrimas descendo pelo mento. Uma viagem pelo meu tempo.

Minhas casas, minhas montanhas... meu mundo de desamores e temores

Assim... cheguei à adolescência

Então, o amor tomou de conta

Uma paisagem finita de pura adrenalina

Infantilidade e desejos incertos

Algo meio chato, mas assim mesmo... diferente ou estranho.

Mais choro.

Uma vida assim, sempre... com lágrimas e sorrisos.

Tudo com demasia e grande intensidade, que fardo.

Sentir tudo como se tudo fosse sumir

Acabar... explodir. Que exploda, sem jeito mesmo.

Comer, algo que me deu prazer

Um feito de puro alarde

Que arde em cada víscera que a terra comerá

Em que possivelmente

Só minha alma sobrará, assim sendo... um descanso pelo menos.

Uma loucura estava aí

Eu não sabia e só vim a entender depois de muitos

Mais muitos anos para frente. Sofrendo.

Mamãe, há minha mãe.

Como a roupa enxarcou.

Deixou de comer para me dar pílulas de felicidade.

Naquele momento vi que Deus vê por mim

Mostrou-me amor, carinho e ao mesmo tempo seu temor

Da minha morte desnecessária ao mundo

Pois nos seus olhos

A minha vida é sim, mais do que a dela

Algo que me deixou triste... pois sinto por ela

O contrário; ela merece viver mais que eu.

No fina, nos duas completam-se para a vida.

Parir é algo lindo, doí e nunca senti, mas é bonito

De ver o sorriso das mães ao ter seus filhos nos braços

Um fato: o amor começa ali.

E enfim, ver filhos padecendo do juízo

Torna-se um tormento

Para todos, para ambos... para a família na totalidade diante do mal

Que mal faz...? eu não via o sangue como dor

mutilação como errado e sim alivio ao corpo gelado

Cortes, mordidas... por fim; odiava minha pele, meu corpo

Cada fibra trucidada pelas facas ao longo da minha tenra idade

Que então ultrapassou os limites da ponte Newton Navarro

Um ônibus direto ao meu futuro

Perto do meu escuro e profunda desesperança

Da incapacidade de pedir por ajuda

pelo medo de cuidarem de mim como louca

Mas eu sim, era uma grande sofredora.

Admita, eu precisava de ajuda.

Precisava de amor por mim mesma.

Deixou a comida de lado

Me levou ao dono de saber

Maior que o nosso

Encheu-me de remédios

Fez seu papel e eu o meu de ser

Paciente bem fiel e paciente

Conseguimos no primeiro elo

Minimizar mais tentativas de suicídio

Felizes todos por isso.

PARTE II

Continuei a escrever

Escrever

A escrever e escrever mais ainda

Em uma tarde escreve cinquenta páginas

Do livro “O hospício não é um Lugar Bonito”!

Isso foi incrível, aos olhos da normalidade

Não de uma mente inquieta e a mil.

Mil e uma coisas se passando, correndo, fugindo e ficando

Foi assim que a literatura me edificou. Entornou e ficou.

Do avesso me deixou. Enfim. Desse auto me jogou

E aqui de frente ao computador estou

Escrevendo

Escrevendo o que se passou.

Foi mais ou menos assim:

Pisei em mim, senti o gelo aqui queimando

Deixando roxo minha pele e face

Face de dor, de arrependimentos

De criança corrompida em sua inocência.

Que mal fez? Tudo que ruim aqui está.

Queria eu não lembrar de nada

Morrer em paz sem ter essa incapacidade

De sentir amor sem desconfiança.

Podem me fazer muito mal.

Coisa da minha mente! Ou não...

Me leva, Senhor a sua sala

Mostra-me a beleza.

Não foi preciso

Aqui mesmo mostrou-me tua face. Eu vi seu carinho comigo

Mãos macias de tanto trabalho

Desmaiando de dor em cada bolo

Que fazia. Meu anjo está é aqui, do meu lado.

Fui indo.

Minha cadelinha se tornou a vontade da maternidade

Fugimos com medo

Dos anjos maus nos pegarem, ela falou que me protegeria

Enquanto eu me escondia.

Gritar dormindo por minha mãe era comum...

Dormir de olhos abertos mais ainda.

Medo de banhos, de estar sozinha

De me mexer na vida sozinha

De me ver perdida... desprotegida

Conforme minha juventude se ia.

Sem diagnóstico; viajei entre muitos

Muitos que traziam mais e muitos medicamentos

Menos dinheiro em casa. Mas no final, em hoje... sim, hoje...

Valeu a pena não desistir e percorrer a estrada dos espinhos

De Jesus Cristo ferindo cada pelezinha dos meus pés

Furados e ensanguentados iguais meus automutilados braços.

Então, vamos indo aqui...

Cada momento de loucura não era tanto assim.

Minha personalidade entre histeria e psicose me fazia assim

Intensamente intensa. Que coisa ruim para mim.

Para todos porque não tinham meios de partilharem do

Que sinto, do que invento do que tenho medo.

Felizmente ou infelizmente... quando me encolhia

Sentia alívio de vida.

De segurança e enchia e via sim

Paz na minha vida.

Nunca fui internada..., mas conheci o hospício como estagiária

Vontade de cuidar, mas ao mesmo tempo de fugir de lá

Piolhos, abraços não recíprocos

Histórias tristes e muito abandono como também

Afeto desconhecido. Cada um de um modo

Mostrava sua face dolorosa.

Tristeza intensa, alegria maníaca ou sem nenhuma emoção

Tem horas que me dava comoção, porém nem sempre

Me dava esse sentimento e sim aquele visto como vazio.

Estudei, tive problemas no decorrer

Superei-os e formei-me. Aplausos!

Então, apaixonei-me

O começo da desgraça, mas amor

Que não se media e sentia-se

Como o fim do mundo. Do alvorecer de cada dia.

Foi bom, nos meus olhos doentes

Horrível no processo de tratamento

Sentimentos dados em vão.

Passou -se como se fosse apenas um momento do coração

Uma loucura do tempo

Que viu que eu precisava para amadurecer

E ver a maldade nos meus olhos aos dos outros.

Que outros? Aqueles que não me engrandeciam

De mim não cuidavam.

Amor (ilusão) em vão.

Mas foi-se e foi bom que se foi.

PARTE III

Dentre devaneios

Encontramos depois da ansiedade generalizada

Da bipolaridade

Da esquizofrenia o real motivo dos meus aflitos

Uma linha tênue da mente foi colocada

Borderline eu no fim era. Dois lados

Da mesma moeda, mudando a cada jogada

Nada foi tão simples depois disso

Dessa descoberta de um único

Medico depois de vários

Cada um com seu dicionário

Mas foi preciso só uma mão

Com uma simples caneta: tornou simples

Meus remédios, confortável minha vida

E com vontade de estar por aqui

Desenvolvendo minha escrita

E minha ciência, amor da minha vida.

Desenhei sentimentos subtendidos pelas tintas

Lindos a quem não os via

Lindos a quem os entendia

Feios a quem somente os via.

Minha arte se tornou minha singela

Passagem na terra.

Chuva, noites de chuva

Dias de chuva

Eu amo água

O banho em que eu esperneava e gritava

Há! O mar!

Lava minha alma

Leva minhas tristezas e me liberta as algemas

Faz com quem amo em um abraço

Quente e me leva, em um coração

Feito pela onda, para nossa casa