Poesia: 180 - Cadáveres vivos
Sempre que posso
Converso com os mortos
Meus cadáveres vivos
Corpos na forma de livros
Sua decomposição é lenta
As páginas vão ficando pálidas
Algumas até descolam da brochura
A velhice exige cuidado e delicadeza
Uma casa de muitos livros é um cemitério
Túmulos de conhecimentos e sabedorias
Cadáveres dispostos às conversas silenciosas
Bons livros nas mãos são sempre conversas francas
Estes defuntos tem mais a dizer que milhões de vivos
Quando abro e leio um livro dou vida à um cadáver
Permito que fale à mim e aos outros suas ideias
Observo um livro na prateleira e começo a divagar
Quem sabe um dia eu virarei um cadávere vivo.