Descanso
Espelhos d'água os olhos
Refletindo a escura alma,
Nada a eles escapa,
Tudo fotografa com a destreza de uma flecha.
Lindas janelas esmaecidas
Pela chuva fria da vida,
Que trouxe o inverno para morar em todas as estações
Dia e noite, noite e dia.
Se cerrados, molham a relva,
Água salgada se derrama
E o verde reclama, resmunga
Que não lhe serve para nada aquele orvalho sem vida.
Se abertos, escurecem
E mentem sobre si num arco gracioso,
Iluminam o rosto,
Mascarando um coração tão ferido.
Se de carne, sangram a não poder mais,
E pelas efemeridades se fortalece,
Se faz frio, se embrutece,
A virar mármore solitário,
Morada derradeira da íris que, enfim,
Encontrou seu vil descanso.