Descanso

Espelhos d'água os olhos

Refletindo a escura alma,

Nada a eles escapa,

Tudo fotografa com a destreza de uma flecha.

Lindas janelas esmaecidas

Pela chuva fria da vida,

Que trouxe o inverno para morar em todas as estações

Dia e noite, noite e dia.

Se cerrados, molham a relva,

Água salgada se derrama

E o verde reclama, resmunga

Que não lhe serve para nada aquele orvalho sem vida.

Se abertos, escurecem

E mentem sobre si num arco gracioso,

Iluminam o rosto,

Mascarando um coração tão ferido.

Se de carne, sangram a não poder mais,

E pelas efemeridades se fortalece,

Se faz frio, se embrutece,

A virar mármore solitário,

Morada derradeira da íris que, enfim,

Encontrou seu vil descanso.

Lene Gomes
Enviado por Lene Gomes em 19/11/2023
Código do texto: T7935524
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