Vida
Durante toda a vida, esperei que a vida valesse a pena, a pena de viver. Busquei nos quatro cantos do mundo a sua incontornável valia. Foram muitos anos desejando que, em algum momento, eu pudesse dizer: "estou completo." Mas esse momento nunca ocorreu. Disseram-me que um homem sem um sonho não chega a lugar algum. No entanto, eu, que almejava tantas coisas, quando as realizei, não encontrei nada além do desejo e da angústia. Desejo por aquilo que não tenho, angústia por saber que, ao encontrar o que eu quero, voltarei a desejar. Como pode a vida valer a pena se, durante toda a vida, ao cumprir uma pena, outra surge? Como pode ser feliz aquele que está condenado à insatisfação? Pois bem, no fim da vida, experimentei a velhice. E na velhice, experimentei a vida.
Os grandes sonhos tornaram-se pequenos afazeres, simples tarefas que diariamente eu cumpria com esforço. Se minha vida fosse uma alegoria, diria que seria uma escalada, na qual, chegando ao topo da montanha, pude olhar o horizonte, que se estendia por todo o caminho que eu havia percorrido até aquele momento. Somente quando eu fui longe demais, alto demais, ao ponto de não haver um metro adiante para que eu pudesse dar mais um passo, percebi no percurso da pena da escalada que nunca houve pena de fato, apenas a vida, que nela mesma se fazia valer. Apenas o momento, sempre fugidio, eternamente transitório, absolutamente implacável.