ESSE OFÍCIO

Amor de verdade mesmo

era de Ariadne por Teseu

e ela arrumou aquele jeito

de ter o seu coração refeito

e de poder contar os beijos

que daria no seu ser perfeito

embaixo e lá em cima do peito

nos quatro lábios nos entremeios.

A paixão pelo poemário é nata

do leite derramado da fornalha

essa busca esse quase encaixe

oculto da semântica e da sintaxe

uma centelha elétrica que nasce

nas laterais do ampere enigmático

que sem motivo aparente dispara

a projeção dispersa de uma imagem.

Não pode ser ânsia se é um trabalho

que confabula mudo com a matemática

e uma música que não pode ser tocada

senão pelo rabisco do preto da palavra

que vaza na pressão dessa engrenagem

que se arma entre o raio da tempestade

e o suor que corre e borra e gruda e rasga

a base do que nada seria e do que nada vale.