Guilhotina

Não me doeria o grito de fome

Não me doeria a noite de frio

Não me caberia o que se come

Mas pela paz eu me silencio

Não me doeria o filho perdido

Nem me doeria a ardil carnificina

Se a cada miserável e bandido

Restasse apenas a guilhotina

Não enxergaria os dentes faltantes

Não enxergaria as livres crueldades

Não perguntaria nada aos governantes

Se houvesse menos impunidades

Não enxergaria o meu pé calejado

Nem enxergaria a mão da loucura

Se todo verme amaldiçoado

Sucumbisse à tortura

Não me importaria com garantias

Não me importaria pelas prisões

Não me cansaria mil “Ave Marias”

Rezadas para proibir as invasões

Não me importaria nenhuma cor

Nem me importaria a nobre chacina

Se a todo próspero malfeitor

Restasse apenas a guilhotina

Não sentiria o câncer e a morte mais

Não sentiria o sangue da criança

Não reclamaria a demora dos hospitais

Se nos houvesse mais segurança

Não sentiria o gosto do veneno

Nem sentiria perder-me inocente

Se não houvesse, ainda que pequeno

Compaixão por qualquer delinquente

Não me faltaria morrer assassinado

Não me faltaria virar um terrorista

Não me valeria das lendas do passado

Pois a essa altura já sou um extremista

Não me faltaria a dor que me atira

Não me faltaria uma hipócrita sina

Se quando julgado, mesmo que mentira

Restasse apenas a guilhotina

João V Zibetti
Enviado por João V Zibetti em 11/11/2023
Código do texto: T7929712
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