NO ANONIMATO CÉU DAS RECORDAÇÕES EXILADAS

Acordei

e a noite não estava mais lá

Para onde vão as noites

e os sonhos que nelas gestei

se o pouco que deles trago

são lavados pelos banhos matinais?

No deserto dos sonhos evaporados

quase me lembro do rosto da minha mãe

ou do corredor desocupado de fantasmas

de uma casa há muito tempo derrubada

na qual ficou meu velocípede enferrujado

Estranho são os sonhos não evocados

pois ali morei em horas que os relógios não contam

vivendo aventuras jamais conhecidas ou imaginadas

salvando um sem-número de donzelas encasteladas

e voando rápido sobre os tetos que abrigam cidades

como se estivesse incessantemente atrasado

Se fui herói

ousado destemido e arrojado

se fui de mim mesmo vilão

ou guerreiro temível e inconquistável

ou se fui amante irresistível e insaciável

tudo isso virou um aquilo irrecuperável

dentro do interior oco da memória evocável

esse cemitério das ilusões findas

onde ficam sepultadas as noites passadas

no anonimato céu das recordações exiladas

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 08/11/2023
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