Na aula de português
Alírio, empertigado,
Ensinava, ensinava português.
A aula era sempre um acontecimento.
Do alto do terno e gravata,
O mestre se impunha...
Dizia poemas de cor,
Poemas comoventes,
Que davam até dó...
Poemas de herói
Que a identidade constrói
Ou destrói?
Analisava frases belas,
Frases difíceis, frases singelas...
Não se ouvia uma mosca.
O português ia nascendo
Naquela história bonita
Do latim de Roma
Ao condado Portucalense...
A sintaxe da língua,
Bem explicada,
Ajudava montar frases,
Fazer períodos completos,
Até poesia.
Uma epifania!
Alírio era um ator,
Dava a ênfase certa
E prendia a atenção...
De vez em quando parava
E dava a palavra a alguém,
Que lia, às vezes trêmulo.
Batistinha é chamado.
Troca ‘notiCIa’ por ‘noTÍcia’...
Alírio manda repetir...
NoTÍcia-se que... a frase não termina.
Repita, jovem...
NoTÍcia-se que... Nada de sair ‘notiCIa’.
Alírio tomou as dores da língua
E não respeitou a inteligência de Batistinha.
A turma gargalhou.
Alírio ensinou, ensinou.
O tempo passou.
Batistinha virou professor,
Professor de português.
Teve professores.
Teve mestres.
Teve doutores.
Pergunte pra ele
Quem foi o melhor professor do mundo.
A resposta está na ponta da língua.