Roupeiro de lembranças
deve sofrer de disposofobia, coitado:
prejulgam-me uns pobres de história!
de fato, eu guardo muitas lembranças
num roupeiro envernizado de imbuia
que já ocupa um quarto da memória
certa parte está disposta em cabides
tal camisas, que só no peito apertam
tecidas na doce infância e mocidade
como os bordados em panos da vida
resguardados ali das traças da idade
recordações revivíveis a todo tempo
por perfumes, por cores ou por sons
ecos perenes e silêncios do passado
momentos não apagados pelos anos
retratos fixados ao fundo das portas
ali só os segredos se desmantelaram
nos fundos falsos de cada gavetinha
desassegredados ou então reduzidos
a um pó fininho, um tipo de farinha
da qual hoje o meu riso empanzina
-- esse poema foi publicado em meu blog pessoal (https://antoniobocadelama.blogspot.com/) em 31/10/23 --