Enquanto vivo
Numa estrada deslumbrante
Revelo-me à mim mesma
Vivo como que por encanto
Respirando atmosferas hostis e belas
Enquanto o caminho se revela
Ante mim.
Como um mago ou ser das trevas
Lanço-me dizeres que traspassam
Meu pobre e vil coração.
À luz do luar
Sinto que somente o silêncio
e meus feitiços poderão me salvar.
E eu ando cada vez mais,
Este corpo que vos fala
Não pára pois presisa demais
De um destino que o acolha
As estradas bonitas e perigosas
Sei, são uma necessidade vital.
Perto ou tão longe
As distâncias querem dizer
Através dos trechos mórbidos
Que os necessários desejos
De se viver, morrer, ressurgir
Sejam como canções inacabadas
Canções que se revelam
Rebelam a alma cativa
Insultam ideias comprometidas
Encarnadas e límpidas
Ou esquecidas e turvas
Como uma forte neblina.
Eu não quero ou não posso
Cessar meus passos,
Repousar um instante
A saber querendo descanso
Pródiga e esquecida
Ou muito lembrada como um deus?
Como um certo encantamento
Revivo todos meus medos instintivos
Erros, acertos, tentativas
Acorrentando-os a meus pés;
Mesmo cansados
Eles não vão parar.
Carrego em mim
Meu próprio ensejo
Num desprezo renegado
À tentativas de sorrisos
E chôros, e bonanças
Tristezas, almejadas.
Rebela-se o instinto,
Todos tem um ímpeto em si
De alcançar viver para sempre;
Ao menos se espera das estradas
Que tenham muitas flores,
Árvores, pássaros insistentes
E que ela não se apresse
Em se pronto findar
Antes que a aurora perfeita
Contemplar possam, meus olhos
Enfim.