Enquanto vivo

Numa estrada deslumbrante

Revelo-me à mim mesma

Vivo como que por encanto

Respirando atmosferas hostis e belas

Enquanto o caminho se revela

Ante mim.

Como um mago ou ser das trevas

Lanço-me dizeres que traspassam

Meu pobre e vil coração.

À luz do luar

Sinto que somente o silêncio

e meus feitiços poderão me salvar.

E eu ando cada vez mais,

Este corpo que vos fala

Não pára pois presisa demais

De um destino que o acolha

As estradas bonitas e perigosas

Sei, são uma necessidade vital.

Perto ou tão longe

As distâncias querem dizer

Através dos trechos mórbidos

Que os necessários desejos

De se viver, morrer, ressurgir

Sejam como canções inacabadas

Canções que se revelam

Rebelam a alma cativa

Insultam ideias comprometidas

Encarnadas e límpidas

Ou esquecidas e turvas

Como uma forte neblina.

Eu não quero ou não posso

Cessar meus passos,

Repousar um instante

A saber querendo descanso

Pródiga e esquecida

Ou muito lembrada como um deus?

Como um certo encantamento

Revivo todos meus medos instintivos

Erros, acertos, tentativas

Acorrentando-os a meus pés;

Mesmo cansados

Eles não vão parar.

Carrego em mim

Meu próprio ensejo

Num desprezo renegado

À tentativas de sorrisos

E chôros, e bonanças

Tristezas, almejadas.

Rebela-se o instinto,

Todos tem um ímpeto em si

De alcançar viver para sempre;

Ao menos se espera das estradas

Que tenham muitas flores,

Árvores, pássaros insistentes

E que ela não se apresse

Em se pronto findar

Antes que a aurora perfeita

Contemplar possam, meus olhos

Enfim.

Ligeia Amanna
Enviado por Ligeia Amanna em 29/10/2023
Reeditado em 04/12/2023
Código do texto: T7919740
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