MEUS PASSOS.

Meus passos velhos e firmes,

mestres em amassar espinhos,

seguem lentos , agora certeiros,

são os olhos que vê algo além...

Já tiverem pressa para vencer as ilusões da vida,

me levaram a fúteis e ignóbeis aventuras,

mergulhei com eles em colossais abismos,

e me trouxeram melancólicas derrotas.

Hoje não. Tenho outra toada.

Não almejo mais uma sociedade harmônica,

entendo a vida como a lima entende o aço,

O bom é cada um cuidar dos teus passos.

Estou solto como a libélula sobre um riacho,

não tenho pressa, e preso mais o abstrato,

ando seguro e lento, correr pra quê.

Já me enganei demais. Curto a liberdade.

Desato os nós que não me deixam andar,

sou caminhante, navegante, sou o que quiser,

ouço o canto das cigarras espocando o inverno,

para renascer a primavera em cada alma.

Não quero morrer na ilusão dos tolos,

este sol que acaba de espantar a noite,

me serve para ótimos versos,

me serve o banquete desta manhã.

Meus filhos já não são meninos,

Criaram armaduras e cascas grossas,

São guerreiros que descascam os dias,

Para verem o sol nascer em cada manhã.

As flores que perfumaram minha infância,

deram sementes, e renasceram tantas vezes,

as águas que mi lavaram por certo chegaram ao mar,

meu passado é uma página na imaginação.

Meus amigos uns se foram estrelar além,

outros descascam com afinco a cana da vida,

uns cresceram como árvores de lei,

outros rastejam como gramíneas em solo árido.

Minha casinha velha está lá firme,

tuas paredes rachadas são revelações,

os picumãs que resistem o telhado,

são memórias vivas de um fogão a lenha.

Vou tentando tecer minha vida,

costuro os rasgados de minha alma,

tento pintar um oásis infinito,

mas quem sou eu? Com tão pouca tinta.

Dignifico o que me é palpável ,

a tudo dou graças, um sorriso me renasce,

como uma semente a procura do básico

para cumprir sua missão.

Meus passos sem pressa me ditam.

hoje, sou pernas que não obedecem relógio.

sou costureiro de tecido velho,

remendando fissuras para vestir o amanhã...