Serenata para a solidão
Pouso sobre a tua janela
Incessantes cantos alegres entoo -
Mas não ouves.
Sou um pássaro que desistiu de voar agora, a vê-la, não me posso deixar
O contemplar.
E então faço serenata
Cantando-te músicas tristes
Olhas, e vês, este que tanto entende
De tua natureza e de tua tristeza
De teus olhos vagos
Refletindo tua mente só.
Eu canto cada vez mais alto
E canto cada vez com mais dor
Quanto em medida assim me dou
Ouvis e dizeis: - que natureza notou-me
Nos extremos de meus deveres, a ser
Benção e maldição na vida dos mortais?
E pergunto - são os deuses solitários,
Tais os que tem tempo apenas pra si?
A solidão é as notas da própria canção
Que a ela cantara.
Pois ao descobrir onde ela repousa em
Sua morada, não quero me dar ao mundo mais.
Como um pássaro distante, que se compraz de viver e ser solitário,
Cortei as próprias asas minhas e vivo
Na batente de uma janela a cantar
Músicas lindamente tristes
Pois é inevitável
Não se emamorar ao solitário da vida,
Aos silenciosos passos no assoalho,
Aos gestos inaudíveis da solidão.
Só há canção, e é a que canto
Ela se agrada, e eu me agrado
Pois em outros tempos
Eras tu, solidão,
Quem uma serenata fazias seja noite
Ou dia
Ao meu ser - ao meu mais íntimo ser.