O momento
Sou o momento, que nunca é algo senão o vir-a-ser em eterno trânsito. Deixo para trás somente recortes de acontecimentos, sombras do fluxo que traduzem a minha existência nômade. Aqueles que me veem apenas pelos meus rastros pensam que uso máscaras, cada uma para uma ocasião, mas não é verdade. O que se percebe como máscaras de várias identidades são, na realidade, partes de um único rosto, divididas não por mim, mas por quem me sonda. Minha vida é uma linha contínua, que só termina com a minha morte. No entanto, tal como nos é possível dividir o tempo em dias, horas e minutos, é também possível, para um espectador alheio à minha vida, dividi-la, a minha existência viva, cravando na linha do devir que me governa, etapas subsequentes para representar uma série de estágios que nada mais são do que uma ilusão de um espírito desesperado pela imobilidade.