CAVALOS

Curadoria de Floriano Martins

Tradução de Elys Regina Zils

CAVALOS

1

Para o lugar mais íntimo do homem

chegam os cavalos,

ali onde tudo é virgem e diferente.

Embora se diga que a noite

é o momento certo

para que cheguem

é necessário apenas que o homem

afogue suas penumbras

e esteja pronto para descansar.

Alguém poderia confundi-los

com a causa de tanto pesadelo.

Mas quem viu

aqueles que dormem em paz

garantem que um cavalo

é o portador das origens mais nobres.

2

Imaginar um cavalo

é como imaginar a Deus.

Deus é a folha

que cai devagar

sobre a água

como a própria água recebendo a folha

com toda mansidão.

Mas Deus não é a folha

a plenitude da água.

Pelo contrário, é instinto:

a suavidade da queda,

a mansidão do acolhimento.

3

Aparecem de repente diante dos olhos

De quem já olha com calma

a luz começa a se mover como um pássaro

cujo ninho foi arrebatado

o pássaro mal move as asas

e não é pássaro, mas tigre

perseguindo silhuetas deliciosas

salta o tigre e não é senão uma menina

detida na beleza de suas carnes

e a menina será menina por segundos

e o casal casal por segundos

e a cidade por segundos…

até que de repente

como se alguém acendesse as luzes

de um cinema

aquele que olhava com calma

começa a ver uma clareza embaçada.

4

Uma sombra esperando a cada momento.

Em seu verde ergue-se a pira

onde queimam as fundações.

Do azul é feita a máscara

com que a besta engana os guardiões do sonho.

Em cada momento uma sombra à espera

de que a luz abandone seu hábito

de iluminar os agradáveis corredores.

5

Então o homem não descansa.

Confundiu a luz com a clareza,

o repouso com o simples ato de fechar os olhos,

a paz com a passagem silenciosa da besta

que espreita seu descuido.

Curadoria de Floriano Martins

Tradução de Elys Regina Zils

Israel Domínguez nasceu em Placetas, Villa Clara, Cuba, em 1973. Atualmente vive em La Habana. É poeta e tradutor literário. Licenciado em Língua Inglesa. Membro da UNEAC (Unión de Artistas y Escritores de Cuba). Recebeu vários prêmios, entre eles o Calendario (1999), José Jacinto Milanés (2000), Dador (2005), La Puerta de Papel (2012, 2015) e o Premio de Poesía La Gaceta de Cuba (2016). Publicou os livros de poemas Como si la muerte hubiera sidounsueño (Ediciones Vigía, 1998), Poemas tempranos(Ediciones Aldabón, 1999), Invitaciones (Ediciones Vigía, 1999), Hojas de Cal(Ediciones Abril, 2001), Collage mientras avanza mi carrode equipaje(Ediciones Vigía, 2002), Sobre un fondo de arena(Colección Sur, 2004), Después de acompañar a William Jones(Letras Cubanas, 2007), Del ciruelo y otras observaciones (Ediciones Vigía, 2009), Viaje de regreso (Ediciones Matanzas, 2011), Los mares profundos (Ediciones La Luz, 2011), En dirección contraria (Ediciones Aldabón, 2014) e Return Trip (The Operating System, 2017). Seus poemas aparecem em antologias e revistas nacionais e internacionais. Colaborou com revisões e traduções em diferentes publicações. Traduziu para o espanhol a coletânea de poemas Del pequeño Charlie Lindbergh y otros poemas, de Margaret Randall, publicada pelas Ediciones Matanzas. Participou da expedição poética La Estrella de Cuba. Foi convidado para a Feria Internacional del Libro de Venezuela (2008, 2010). Participou do Festival Internacional de Poesía de Medellín e da Feria Internacional del Libro de Antofagasta (2016). Foi editor das Ediciones Aldabón.

https://revistaacrobata.com.br/florianomartin/atlas-lirico-da-america-hispanica/3-poemas-de-israel-dominguez-cuba-1973/