Enquanto (dor)mimos - André Espínola
O dia (re)nasce
Como se o ontem nunca tivesse existido.
Não importa se jesus nasceu,
Morreu
Ou se foi por todos esquecido.
O sol está cagando pra isso.
Ele é ainda um pagão
Que bebe vinho antigo
E se farta na carne
De boi torrada.
O ontem é sempre uma lâmina que (p)arte
E p-a-r-te
Deixando em pedaços
Um passado
Como presente perdido.
O azul do céu na manhanzinha virgem
E a consciência ainda entorpecida
Pelo sono nunca saciado,
É como um mergulho no Letes
De uma alma preste
A mergulhar na vida.
E sabe-se do hoje
Somente porque nele existimos.
Esperando o (a)manhã no fim
Da mais profunda noite,
Enquanto a dor dorme em mimos.