COMO SONHAR ANTE A IRA? (ou O ÚLTIMO OLHAR DA POESIA)
A noite dobrará a capa
Cerrará pesada porta
Que abrigue os homens do gelo
E do fogo sobre os ombros
Porá os viventes no pasto
Para um sono no estábulo
Feito o berço de Jesus
A guardá-los da morte e ódio
Virá a névoa do bafejo
Quente sopro a derreter
O gelo do longo dia
E o terror do novo Herodes
Como ajeitar a cabeça
E sonhar em macio coxim
Se as taças estão guardadas
E o brinde da paz foi adiado?
Porta da noite cerrada
Fechemos também os vãos
Não há estrela que mereça
O último olhar da poesia
Derretam do olhar a neve
E abram as mãos ressequidas
Nelas ainda corre o sangue...
Juntemos preces ao Pai .
Dalva Molina Mansano.
21 de Outubro/23