O LADO ESQUERDO DA MEMÓRIA
Sabe aquele retrato
que tiramos em fevereiro de 1984
tenho ele guardado no lado esquerdo da memória
Sabe aquele anel de noivado
que não cabe mais em meu dedo engordurado
ainda trago ele no lado esquerdo da memória
Sabe aquele vestido branco azulado
que usavas em nosso primeiro natal
continua te encobrindo no lado esquerdo da memória
Sabe aquele poema de versos desalinhados
que lhe fiz no penúltimo verão do século passado
levo ele quase escondido no lado esquerdo da memória
Sabe aquela música de Chico Buarque
que tocava na vitrola enquanto namorávamos
escutua-a com meus ouvidos do lado esquerdo da memória
Sabe aquele filme que assistimos abraçados
no cinema que ficava próximo ao Parque Traze de Maio
prossigo vendo-o contigo no lado esquerdo da memória
Sabe aquele jantar em que bebemos vinho importado
ao tempo em que te pedi para casar comigo
ele jamais foi encerrado no lado esquerdo da memória
Sabe estes minutos em que passo aqui te escrevendo
no mesmo momento em que estás por perto dormindo
eles ficarão sempre retidos no lado esquerdo da memória