UMA PONTE QUE O RIO AINDA NÃO LEVOU

No ontem em que já não estou

me ideava com um amanhã em que não sou

Algo se perdeu entre o antes e o depois

Em que hoje ficou minha distinta face

que é aquela que a nenhum espelho revelo

e nem mesmos os velhos retratos sabem dela?

Quem fui se mistura nos nevoeiros da memória

com sonhos que a parede da vida não acordou

Sou uma ponte feita de dias findos e jamais

a me interligar as margens de um rio

em cujas águas alguma coisa de mim se afogou

Ao oceano que no fim me espera

sou aquele qual sou

e aquele outro quem não sou

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 19/10/2023
Reeditado em 19/10/2023
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