CICATRIZ NÃO SOME QUE É PRA NÃO ESQUECER
Não encontro envolvimento íntimo com uma palavra sequer
Não há imagem de paisagem que transmita liberdade
Pra prisão de transtornos e ansiedades, o invisível forma grades.
Não tem timbre de voz ou som ensurdecedor que tire isso de mim
É recente e emudece. Nada me baste, abastece, tem bom tom
Desconheço sossego exceto no aconchego do edredom.
Dias de não dividir, noites que hão de demorar.
Abraçar o processo e cumprir a sentença de recair
Ou debater e negociar um custo mais baixo com o coração
Levando em conta a incompreensão do que isso possa beneficiar.
Ele que já derreteu aprendeu também a empedrar
A cabeça insiste em resistir, razão no dom de duvidar
A vontade nessas vezes é só de sumir, partir
Sem saber ao certo o destino, órfão de um lugar
E numa manhã estranha suado de frio feito
O despertar de um sonho ruim tudo esvai.
O som do pássaro que canta vida lá de fora
A imagem do sol batendo na janela do quarto
A releitura de ricos detalhes adormecidos no agora
Tal como o clima dando trégua a umidade chuvosa
Depois de uma semana descarregando sem descanso
Deixando a sensação de que uma hora dessas
Vire e mexe o tempo, volte a nublar.
Cicatriz não some, salta e sorri de volta
Que é pra não esquecer quando deixar de doer.