CICATRIZ NÃO SOME QUE É PRA NÃO ESQUECER

Não encontro envolvimento íntimo com uma palavra sequer

Não há imagem de paisagem que transmita liberdade

Pra prisão de transtornos e ansiedades, o invisível forma grades.

Não tem timbre de voz ou som ensurdecedor que tire isso de mim

É recente e emudece. Nada me baste, abastece, tem bom tom

Desconheço sossego exceto no aconchego do edredom.

Dias de não dividir, noites que hão de demorar.

Abraçar o processo e cumprir a sentença de recair

Ou debater e negociar um custo mais baixo com o coração

Levando em conta a incompreensão do que isso possa beneficiar.

Ele que já derreteu aprendeu também a empedrar

A cabeça insiste em resistir, razão no dom de duvidar

A vontade nessas vezes é só de sumir, partir

Sem saber ao certo o destino, órfão de um lugar

E numa manhã estranha suado de frio feito

O despertar de um sonho ruim tudo esvai.

O som do pássaro que canta vida lá de fora

A imagem do sol batendo na janela do quarto

A releitura de ricos detalhes adormecidos no agora

Tal como o clima dando trégua a umidade chuvosa

Depois de uma semana descarregando sem descanso

Deixando a sensação de que uma hora dessas

Vire e mexe o tempo, volte a nublar.

Cicatriz não some, salta e sorri de volta

Que é pra não esquecer quando deixar de doer.

Pablo Machado
Enviado por Pablo Machado em 17/10/2023
Código do texto: T7910813
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