A ETERNIDADE
Na eternidade todos os dias são domingos
e as manhãs são escuras como se fossem
uma imensa noite inesgotável e prolongada
Na eternidade todos os gatos são pardos
os arco-íris são descoloridos e daltônicos
e os ruídos têm a mudez silente dos inaudíveis
Na eternidade o tempo é o tempo que não passa
os relógios são órfãos de ponteiros e números
e calendários são impressos em branco e sem datas
Na eternidade não há cinemas, praças ou praias
se existisse shoppings estariam sempre fechados
e não há restaurantes para se comemorar aniversários
Na eternidade tudo se encontra inerte e parado
nada anda nem pra frente pra trás ou de lado
nem sei para que serve aquele semáforo quebrado
Na eternidade ninguém se olha nos espelhos
os cemitérios estão habitualmente lotados
e não é lugar para quem medo de fantasmas
Na eternidade a porta de saída é a mesma da entrada
não há paredes nos corredores enormes e dilatados
e ao final quando se chega se encontra o nada
A eternidade deve ser uma coisa maçante
monótona aborrecida e muito muito chata