VIVER NÃO CANSA
VIVER NÃO CANSA
Viver não cansa.
Cansa teimar no vazio,
remar no improvável desejo,
na inconcretude das formas
de ser e estar
para com o outro.
Não é o verbo escasso
que cansa, é a sua abundância,
a verborrágica promessa,
a sintaxe emboscada,
a palavra de quem ama
na trama retórica da mentira.
Cansa quando me tiram o nexo,
quando me arrancam o sexo
e não me deixam espaço
para eu me superar.
O que há de se fazer
morto não se deve
insistir em ressuscitar.
O fim que trago em mim
deve ter início.
Na fonte em que bebi o sentido
devo afogar o meu sonho.
Não posso
se já não há poço.