O que tenho a dizer-te, alma minha?
Que tenho eu a dizer-te,
Alma minha entocada
Num arredio recôndito
Esperando que as palavras
Despontem de mim como fontes
E te encontrem só, a esperá-las?
Espera, calma, longeva e inerte
Não dê tuas voltas tantas
Perambulando pelas profundas sendas
De desconhecidos erros, exceto
Às repelidas maneiras
Que tenho de falar-te: fica.
Alma, que só a mim pertence
Ouço teus choros noturnos
Tua sólida solidão envolve
As frágeis ligações e o pouco
Que dissemos uma à outra.
O que tenho me satisfaz?
Escuta, ávida e interessada
Como um início
Como dois seres que se chocam
E decidem à entrega.
Aceita-me, minh'alma
És minha peregrina guia
Se a minha alma
Se perde de mim fácil
Eu desconfio que esteja
Noutro plano, debaixo de árvores
Raras e centenárias
A esperar-me e esperando,
Dizer-me impaciente:
Fala-me logo tudo o que és
E tudo o que sentes
E o todo que de mim, queres tu,
Finalmente.