O que tenho a dizer-te, alma minha?

Que tenho eu a dizer-te,

Alma minha entocada

Num arredio recôndito

Esperando que as palavras

Despontem de mim como fontes

E te encontrem só, a esperá-las?

Espera, calma, longeva e inerte

Não dê tuas voltas tantas

Perambulando pelas profundas sendas

De desconhecidos erros, exceto

Às repelidas maneiras

Que tenho de falar-te: fica.

Alma, que só a mim pertence

Ouço teus choros noturnos

Tua sólida solidão envolve

As frágeis ligações e o pouco

Que dissemos uma à outra.

O que tenho me satisfaz?

Escuta, ávida e interessada

Como um início

Como dois seres que se chocam

E decidem à entrega.

Aceita-me, minh'alma

És minha peregrina guia

Se a minha alma

Se perde de mim fácil

Eu desconfio que esteja

Noutro plano, debaixo de árvores

Raras e centenárias

A esperar-me e esperando,

Dizer-me impaciente:

Fala-me logo tudo o que és

E tudo o que sentes

E o todo que de mim, queres tu,

Finalmente.

Ligeia Amanna
Enviado por Ligeia Amanna em 15/10/2023
Código do texto: T7909308
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