DESERTAR
DESERTAR
Meu pânico atado a meu pranto
não deságua sobre os meus temores
de quem utiliza a carência
como um afrodisíaco a engolir
o mundo.
Mudo sob o fogo incerto
quando a treva se atreve
a se esparramar em um nada
que julgo ser tudo.
Converteram-me minuciosamente,
e hoje inserto estou nesta seara
de possibilidades.
A dor é a primeira
e gozo sobre ela como
se a quisesse semear.
Neste instante a memória repousa
porque o corpo a corpo
é pungente; fruto maduro
que não se pode colher.
Deserto que se nutre do próprio sal
e insiste em mirar-se
nas mais indistintas miragens.
Prove que vive
Prova que vive
sobre a sombra
que o tempo pode vir.