Hora Vazia

 

Sou eu o berimbal que ao longe chora,

a corda que vibra num lamento triste.

Sou o violoncelo que se move nas sombras,

numa concertina de dor e lamúria interior.

É meu coração que lacrimeja na distância,

o pífano cujo lamento não cabe

senão no santuário sagrado de meus pra dentro.

 

Triste e só -

sou eu -

Agora e Sempre!,

sou eu!

 

Sou eu que não consigo mais rir do que choro -

como sorrir na tristeza que amplifica os sentidos?

Na lágrima que traça grossos sulcos pela face?

 

Ao longe o som lúgubre do trompete,

anunciando o Início do Fim.

Trinta passos voltados no tempo do Sol,

trinta milhões de passos voltados no tempo da Lua.

Mais trinta milhões retrocedidos à outras eras -

aquelas passadas onde a alma se acolhe viver.

Sem forças para renascer...

 

E toca a celesta da Hora Vazia -

hora de angústias,

de sentimentos contraditórios -

sem enxerto de poesia...

É porque sou eu!

 

Sou eu a alma que anda e procura...

outros horizontes...

a alma que se despede, que chora

e que escreve na hora dos sepulcros...