Orfeu
Se viemos só com o corpo\
Se ao voltar nada conseguiremos levar\
Por que\
Por que teimamos na vida em acumular\
E vôraz, em muitas vezes\
Somos capazes de matar\
Pelo brilho de um metal\
Por meras vaidades e terras\
Pelo simples capital\
Por estatus e poder\
Que poder\
Se nem podemos parar a morte\
Epidemias e pandemias\
Andam lado a lado\
Se alastram e ceifam muitas vidas\
A toda sorte\
Mas o que o capital faz\
Mas o que o poder opera\
Mas o que o estatos trás\
Luxo, roupas de marcas\
Carros, posição, bebida\
Homens ou mulheres lindas\
Compra lugares paradisíacos\
Noites de núpcias fantasiosas\
Subsidiam artes e invenções maravilhosas\
Porém, quando o silêncio vem e te cobra\
Você se sente vazio\
O que você realmente procura\
Introspectando no seu egoísmo mais simples\
Introspectando na sua ambição mais humilde\
Você saberia dizer\
Não sei, mas o verbo me diz\
Que não precisamos ter\
Mais do que o amanhecer\
Mais do que a roupa\
Mais do que comer e beber\
Pra se ter o coração leve\
E poder verdadeiramente seguir o caminho\
A luz da paz e do amor\
Que nesse mundo\
Você não compra com trocados\
Se realmente quiseres\
Se não fores ainda escravo de toda essa ordem\
Te despe das tuas coisas\
Pega o teu fardo\
E semeias\
No teu arado\
Porque o teu suor\
Teu cansaço, tua colheita e tuas dores\
Serão mais do que o teu legado\
Mas ainda me pergunto\
Por que nesse deserto\
A poeira é tão desigual\