No silêncio da semente

 

É no silêncio da semente

que os trigais garlam os campos,

vão e se tocam...

e se fazem dor...

e terra e pó.

 

Depois, em voo de fênix

dobram suas hastes

num balouçar de canoa...

e, mesmo moídos

por angústias tão terrenas,

saciam a fome

das estrelas

e galáxias longíncuas.

 

É como a alma do rio,

que fere as águas

nas escarpas das rochas

e morre no desejo

de enterrar seus braços

nas margens que banha,

e por fim, se entrega

generosamente ao mar...

e nele se afoga

e se deixa

por ele transformar...

 

Também o orvalho que cai na terra

morre raízes e silenciosamente

acolhe em seu corpo as sementes...

 

Como a alma poeta,

que é dor e pó,

silêncio e semente...

em poema de trigo e pão...