NEM TODA ÁGUA VAI COMPENSAR OS DANOS (DO CÉU, DA FONTE, DOS CANOS)

Continuo fritando as coisas com óleo e colocando

A quantidade que der na telha de sal.

Porque o que mata mesmo é ficar na vontade

Insensatez invade, solidão de manejo involuntário

Esmola vira postagem viralizando na tela nutrindo vaidades

A negação da realidade nesse social viciado em diferencial.

Sem negociação, só me disfarço do que satisfaz

Calço o tênis, amarro os cadarços, olho sempre pra trás

Assim me desfaço do incomodativo que tanto faz.

Prefiro que o corpo pague mais tarde do que

Mais tarde chegue sem que eu tenha experimentado

O que me agrada de fato afinal. O vinagre, o vinho

Tudo que há pelo caminho de quem não sabe o que quer e

Ainda existem mais caminhos quando não se sabe onde chegar

Certezas eliminam possibilidades, se eu sequer estou certo

Disso, imagina daquilo tudo que vem do outro

Suposto inventor de verdades pra dormir tranquilo

Só sei do que eu sinto, vivo e faço o resto não assino embaixo.

Há no mundo mais loucura do que se comprometer

Com o improvável? Imprevisíveis movimentos do abstrato.

Gosto de sentir o gosto, ainda que isso me mate.

Mata também através da amostra mínima da miséria

Do monstro monetário que a mídia modera

Dessa desenfreada ilusão de carícias do ego em likes ("moderna")

Da dor de tanta gente que diminui o que sente

Pra enfrentar o que vem atropelando pela frente

Sorriso contente expondo os dentes, solicitações na lata

Submerso na rotina precária de resolver

Dissolver problemas (que por tantas a própria

cabeça insiste em fazer), promover suficiência.

Não há postura que ature intacta a grosseria

De um atrito gratuito tendo o troco reprimido.

Anzol da carência fisgando pobres contatos físicos,

Ilegitimando o íntimo, discursando alegorias mentais.

Carinho é ouvido, palavra, silêncio, saber onde tocar,

Restando porventura apenas o canto de canto da boca

No fone baixinho pra vez ou outra feito coberta o peito aquecer.

A cessão de conflitos covardes como estado de conquista habitável

Ainda é uma pendência humanitária das reformas sociais.

Pablo Machado
Enviado por Pablo Machado em 08/10/2023
Código do texto: T7903907
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