Manifesto Antrópico

Onde estão os homens da Terra? Nisso sou amigo de Fernando Pessoa.

Vivemos a era da fantasia e do faz-de-conta. O ápice do teatro. A máscara nunca esteve tão em alta - nem mesmo na pandemia.

Tempo de morar nas tocas. De vestir a noite e o escuro, e de ocultar-se numa tela.

Refúgio anônimo (abrigo dos covardes); desculpa de quem não encara. Quem se atreve a revelar-se? Qual de nós olha pra dentro e vê miséria?

To see or not to see: that is really the question.

O que propomos é verdade. Que sejais vidros. O fim da ilusão. O término da farsa.

Que a máscara não apague a memória do rosto por trás dela.

Não sejam homens da caverna. Sejam heróis de Platão. Exponham-se no claro.

Somos filhos da Desconstrução. Tornamo-nos a morte, os destruidores de mundos.

Este é o tempo da euforia, e da noite vencer o dia. A noite - não - estrelada. Da não-métrica dos versos. Da ausência total da poesia e do sublime.

Somos herdeiros da pressa, e não há contemplação.

É época do Tempo ser imparável. Tempo do estar sem tempo. Vitória do expresso. Sobrevivência dos mais rápidos. Somos netos de Darwin, mas inteiros anti-naturais. Já não se tem o prazer do tempo. Não mais gozamos de calmaria. Há muito que não ouvimos conversas. O que existe são comentários.

Queremos que isso pare. Nós queremos parar.

Nossas almas já cansadas clamam pelo dia pacífico. Nosso lamentoso canto é de ritmo lento.

"Não, não posso parar, se eu paro eu penso, se eu penso eu choro". Esse é o grito maluco do mundo.

Mas nós repudiamos isso. Queremos a silente greve. O 1 minuto de silêncio. Queremos a boa pausa.

É nossa doce revolução contra esse império inumano.

É também este século o Aeon de Newton. Da ação e reação. Do toma lá, dá cá. Da vingança idiota.

"Olho por olho e dente por dente e todos acabarão cegos e banguelas". Que gênio era Gandhi!

Mas é tempo da surdez e da falta de bom senso.

Elon Musk é o rei do mundo.

O mundo das consciências imortais. Dos amigos de Asimov. Dos criadores de Ultron. Dos Homens-de-Ferro e das "Máquinas-de-pele".

Este é o domínio dos coachs, e a autoridade dos influencers.

É a terra dos antropófagos e aqui só interessa o alheio. É como um buraco-negro que quer engolir tudo o que passa pelo olho.

"E já não se podia distinguir se eles possuíam o dinheiro ou se o dinheiro os possuía".

Fez-se da Terra um reino dividido.

Partimo-la ao meio e assim nos fizemos as vergonhas cósmicas, as pragas planetárias.

Porque a nossa inveja partiu ao meio a família. E pôs um irmão contra o outro.

E o nosso preconceito fez nascer os que estão às margens. Os polarizados. E homem e mulher estão em lados opostos.

E a nossa ignorância dividiu a espécie, de modo a criarmos os párias da terra, a minoria perseguida, e a maioria opressora.

Não há equilíbrio, é uma gota ou um oceano.

Nossa luta é contra todo esse egoísmo. É contra a felicidade por comparação. Freud estava certo, mas nem tanto.

Nem nos seus melhores sonhos ele poderia nos interpretar completamente.

Nossas palavras batalham contra os padrões sufocantes da moda.

Negamos toda busca pela imortalidade sem transcendência.

E o que mais desejamos é que haja irmandade entre todos os homens.

E então o que Dostoevsky falou se tornará ululante: a beleza salvará o mundo.

[...]

Esse texto foi criado para um trabalho escolar, tendo como inspiração os manifestos Antropofágico e Pau-Brasil. Como sendo feito aos moldes do Modernismo (e mais profundamente ligado à segunda geração), busca-se na obra retratar vários temas concernentes ao ser humano, - como o engano (e auto-engano), o acelerado ritmo atual do mundo, a ambição por poder que resulta em egoísmos, o espírito vingativo crescente entre as pessoas, etc. - com intuito de provocar reflexões e, se formos otimistas, metanoia (mudança de mente). É o Grito do Homem - e, por homem, quero dizer a humanidade - e esse 'homem' não é necessariamente referente a mim, mas pode ser de qualquer um que, concordando com essas palavras, falem em suas mentes e almas nesse mesmo espírito aqui manifesto.

Jônatas Da Silva
Enviado por Jônatas Da Silva em 29/09/2023
Código do texto: T7897177
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