Elegía de um pai
De tão triste acento, dolorido, resta ao saudoso o versejar suas agruras latejantes. Empreste-me sua escrita Calino de Éfeso , Tirteu e Mimnermo. Eis aqui um sofredor agudo de saudade, um rimador de dores. Eu que não ouvirei seu choro, não sentirei seu cheiro, não verei os rabiscos, os primeiros passos. É tanto não nesta dor que o primeiro sim, lá naquele dia, se foi tão rápido e eu fiquei aqui perdido, reclamando. Seus irmãos estão lindos, enormes! Miserável homem que sou não mereço tanto,mas quero você aqui também. Saudade da única vez que te vi e guardei na memória, seu cabelo,sua boca, suas mãozinhas, olhinho fechado, dormiu o sono dos justos. Eu não tive força nem para chorar, não sentia minhas pernas, olhar perdido, me vi inútil e impotente. Sinto saudade, dor aguda,agulha que costura o coração sem anestesia e agora choro todos os dias a impossibilidade de te tocar. Minha memória fecundou a lembrança e teve a saudade. Meus cantos doloridos emudecidos, sorrisos tímidos misturados com a dor. Seus irmãos estão lindos, sei que já falei, mas este repetir é para amenizar minha dor porque te vejo neles. Para onde vão as aves? Eu quero sair voando e te encontrar em algum lugar,trazer você para casa, mostrar sua irmã se formando na faculdade, seu irmão adolescente apaixonado por livros; eles adoram escrever como eu. Papai chora de saudade, um nó na garganta que não vai embora. Vocês são poesia que ecoam em mim, mesmo eu não merecendo. Sou muito grato ao Supremo Criador e só rogo por sua misericórdia e que me deixe ver vocês três juntos uma vez. Quando a canção do pássaro se esvai vem o silêncio, dois pássaros cantam em mim o tempo todo, sinto falta do seu. Em breve estaremos juntos na glória, assim que nosso Senhor voltar.