A Estrada e Eu
A estrada não mudou. A estrada mudou a mim.
As quedas, a lama, o vazo quebrado, o coração partido e sonhos despedaçados. Não foi nada bonito. Geralmente nunca é.
O eterno se rompeu, as estrelas caíram, os sorrisos foram vendidos e a felicidade se tornou algo supérfluo.
A estrada não mudou. A estrada mudou a mim.
O novo se tornou velho, o agradável amargou, verões se escureceram no inverno e o frio nunca mais partiu. Flores murcharam nos funerais, doces aromas se tornaram somente recordações que se desintegram a cada passo na estrada.
A estrada não mudou. A estrada mudou a mim.
Alterou como barro moldado a mão. Reconstruído, destruído, refeito, desmantelado, incompleto, de forma bizarra, erguido novamente como um estranho que caminha nem no inferno e nem no paraíso, apenas eco, somente sombra, prosseguindo num rumo de estilhaço de vidros que refletem aquilo que nunca foi. Aquilo que nunca será.
A estrada não mudou. A estrada não muda. A estrada é contínua e sem fim. A estrada acumula passos e corpos, heróis e vilões. A estrada é a história de todos nós que seguimos desesperadamente sem opções de parar, pois parar significa silêncio. A estrada engole, toma e devolve, a estrada não possui moral, nem artifícios. A estrada se alimenta de nossas vidas onde o preço de tudo é alto demais, intenso demais e doentio.