simetria e o perfume endurecido

Na região de onde deslizavam os frutos,

Que adornavam a mesa posta,

O almoço era solene e todos sabiam,

A medida exata para temperar os pratos,

Ainda que a proporção fosse sutil,

Árvores, cujas folhas pareciam utopias,

Absolutamente simétricas em sua forma,

Narravam a coisa justa da maneira correta,

Desde as raízes, nossos pés compreendiam

A terra, melhor do que o chão de pedra

Que nos sustentava nas piores quedas.

Seus frutos nos tornavam amantes ansiosos,

E a pele das mulheres, como correntezas deslizantes,

Livremente descia pelos sulcos das pedras,

Para serem amadas, com requinte, pois

O amor era uma virgem sempre pronta

Para receber outras águas, outras chuvas.

E junto a elas, escorriam encontros libertários,

Desprendendo o prazer das pedras mais nobres,

Quando o sono dos deuses se aproximava,

Tornávamo-nos ventania ou uma ladeira íngreme,

Nossos braços nos seguravam firmes.

Assim, ao amanhecer, o tremor branco e laranja,

Úmido e vibrante, se desdobrava sobre a relva,

Tomávamos nossas refeições com gratidão,

Agradecendo à boca de um verbo que nos ensinava

A descer para cima ou a subir para baixo.

Foi nessas horas que percebi

Que as pedras eram perfumes endurecidos pelo medo.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 18/09/2023
Código do texto: T7888628
Classificação de conteúdo: seguro