Espera
Acordei ao som da chuva,
À minha frente, uma mesa de quatro pernas,
A memória, silenciosamente, ouvia os móveis
Arrastando-se, e pensei que o piso estava em agonia,
O castiçal iluminava meu alçapão,
A noite inscrevia seu nome na estreita entrada de meu quarto mais escuro,
Acendo uma laranja, o fruto claro e cítrico, na curva, no corredor mais intricado,
O candelabro já mantinha sua dança de sombra, é que dentro das coisas,
Ventava-se o vento que refresca os casulos.
E vi você dançando, a fórmula formosa de se fazer o fogo,
As brasas eram levadas por dentro da carne, eu me deslizava em pensamento,
Já que o altar era alto para as minhas pegadas,
Se uma cigarra cantasse enquanto eu cantasse uma ópera e uma formiga sapateasse,
Não seria sobrenatural como teu corpo sendo elevado, algum deus
Lhe tocava as omoplatas, como este poema que teima, porque assim o poema se completa,
A colheita nem sempre tem o sal mais adequado,
Amo a saliência que me provoca, porque tu cresces quando se mostra,
Bebo gim, cachaça, engulo esmeralda, só pra te ver melhor,
Já que é maior quando bebo sangue e como a carne rubra de meu milharal,
Porque eu te amo, de dentro desse escambo no meio de deserto sempre a trovejar,
Sangue e solidão, esperança, mas sua ruptura mais direta, o vento estival me balança e me refresca,
Porque uma montanha tão alta, esse vestido precipitado, só queria escrever um poema enquanto minha língua sabe da sua,
E as salivas são rios que deságuam no colo, amando-me, te torno esse chão,
Mas pode saltar como um tigre e não cederá,
Porque pus todos os meus ossos nesse empreendimento,
E minha pele te protegerá das intempéries, mas te peço que me despertes desse eterno desencontro.