BOROCOXÔ DE FATO
Queria tanto te catar de volta
dos escombros da minha saudade,
num sobressalto qualquer.
Talvez te encontre desfolhada,
lambuzada de medos e soluços febris,
quem sabe até de alma cabisbaixa,
borocoxô de fato.
Talvez te ache puída, de fé embaraçada, olhar moído.
Então vou acarinhar teus cheiros, embalar cada frangalho,
reaquecer teu caminhar aflito e mamas renegadas.
Vou esquecer das tantas farpas, dos incansáveis nãos,
das desanuviadas noites sem sonhar, sem esgarçar.
Vou esquecer das tuas gavetas vazias,
do quanto doeram teus gritos nada gentis,
do quanto me fizeste querer morrer de vez por todas.
Assim vou te perdoar como embalasse a primeira cria,
vou te salvar daquelas águas cruéis, arrancando cada farpa malvada,
cada cuspe atroz, cada vão maldito, cada quinhão sombrio,
então vamos nos misturar como tanto fizemos outrora,
vamos nos esquecer ronronando lindamente feliz,
absurdamente atados de vez.