"Camadas do excesso"
Já precisei de mais luxo que um livro,
Uma pequena xícara de café preto e
A incidência da caneta esferográfica
Rascunhando movimentos sensoriais
Pra regular essa pressa que desobedece
Minha capacidade distorcida de assimilar.
Hoje me contento em folhar as páginas,
Beber o café puro, quente, logo cedo
Enquanto o sol assina o nascer tímido
Enquanto assisto sumir o suor do sereno
Retinto por entre folhagens e ferrugens
Num contexto sorrateiro, raro de relatar.
Transcrever num texto pondo pra fora
O que me sobra, excita ou faz mal
Na ressaca pela raiva do desequilíbrio social
Atrás da graça que não compreendi em
Esforços pra acumular, feito a felicidade
Quem dera poder comprar por unidade,
Crescer como grama pelo quintal,
Reservar a encomenda recebida em
Migalhas de pão por caras de pau.
A vida vagueia vulnerável às expectativas
Pus as minhas em uma caixinha debaixo
Da cama onde não posso vê-las
Expulsando diariamente sinônimos
Dessa necessidade, tendencial tristeza,
Suprimindo a demanda das telas,
De estar ao alcance da câmera
Vestir a camisa do time e esquecer
De pensar com a própria cabeça.
Dentro da paisagem à paisana
Resiste um motivo cabível a todos.
Almejar o óbvio me sugeri um engano bobo,
Tendo em vista que a cova é coletiva,
Somos todos dieta no almoço das onças.
Contrariando a teoria do formigueiro
Na corrida pela conquista pegando carona
Ao invés de converter costumes antigos
Em antídoto pra essa mania vaidosa,
Exercício exaustivo quando só a metade
Visa o conjunto remando a canoa.
Não se entende nada é só revide covarde
Num cabide blindado de emoções
Cárceres disfarçados de condições
Cobranças confundindo intenções
Falácia, afirmação falida que feliz
É aquele que negou suas obrigações e
Rejeitou termos pra viver de despreocupações.
O desafio é cumprir as palavras
Compor o proposto com ações.
O que reforma minha melhor forma
Ainda é o afeto e a tutelaria
Fazendo a manutenção do caráter
Que por uma falha ou outra, desvia.
O que deforma a esfera é olhar em volta
Vendo a mazela e a infantaria intervindo,
Prostituindo o papel da proteção
E a total falta de indignação por parte
De um lado humano em aparente
Estado avançado de decomposição.