Eterna Senhora
Ninguém desce às profundezas sem que olhares estrangeiros,
Das minhas palmas, o som se esvai, repousa em calma mortuária,
Onde deuses, em silêncio, congregam-se sob a abóbada esquecida,
Discorrendo sobre eras que o tempo, em sua marcha, devorou.
Na mesma esfera, o fogo, um convite à contemplação dos caídos,
Desliza entre os dedos, enquanto os corpos se preparam
Para acolher o crepúsculo dourado que os horizontes prometem.
Quando a chuva desce, o elemento aquático torna-se fogo, inextinguível,
Destruidor, na eterna busca pelo saber, bebemos
Em goles vorazes, como jovens sedentos diante da fonte esquecida.
Nada impede o encontro dos mortais, pois
Tudo nasce da árvore consumida pelo fogo, cujas cinzas
São o prelúdio de sóis e brasas, narrativas que o verde
Já sussurrou em segredo, enquanto o sangue pálido flui entre ruínas,
Na antevéspera da perdição, embriagamo-nos com a loucura,
A lucidez torna-se uma janela escancarada para os céus cinzentos,
Onde a pedra do descontentamento verteu
Seu sangue em silêncio, apesar da dureza ser
Lapidada pelo tempo, então, os deuses reacendem as cinzas, o fogo, por vezes,
Transmuta-se em água, um vislumbre do porvir os envolve,
A sombra se alastra, mesmo ante a chama, outra água, e ela
Murmura segredos, a sombra reina suprema, até nos cumes,
É sua eterna guardiã.