em cada mulher uma torrente de sol
Entrega-me teu império, teu reino de fogo e estrelas,
Tua glória, teu minério, sob o sol que nunca se deita,
E tua boca banhada pelas marés do meio dia,
E a pele entumecida e intensa, jorro de luz nas pradarias.
Em cada mulher, uma torrente de sol, uma chama que arde,
Correremos juntos, e na relva, nossas sombras se desfazem,
Então apenas os corpos se vingam no mundo, as plantas cobrem
O tempo com o verde da lagoa agitada, as ondas estão além
Do mar, no âmago de tudo que ama, e as margens são
Apenas recados, não sufocaremos o fogo que a lascívia impetuosa
Plantou, e nossos nervos, amor, sou daquele lugar, profano, insano,
Durmo na beira de um sonho e na soleira da parede mais remota.
Passo, trago em mim: a vida é variada, e a tua com a minha é
Belamente sacra, pois o sagrado é o que foi visto, sentido e amado,
E as flores anunciam que estão na sombra de um céu sempre límpido.
Assim, sopro nos teus ouvidos, teus braços são implosões que
Revelam tua pureza, que mulher entregaria seu sexo sem que a pele
Esteja presente? Amo, e então sou a pedra antiga, solar, sábia, nebulosa.
Que espaço profundo, me espalho e me movo, e em todo canto
Sinto o peso da tua língua, tuas mãos acariciando o poema que mais
Leio, letras, palavras, todo sinal dispara e ressurge apenas para te dar um retrato.
Recorda-me uma bananeira que oferecia laranjas ou é doce como a língua de
Uma caverna, onde a arte rupestre já explicava o esplendor do seu firmamento.
Ao perceber que habitava em ti, o mistério, ternura despertada, somos da mesma colheita.
Do mesmo rio, corrente que se quebra nas pedras, silenciosamente, te mostrei uma paisagem noturna.
Flor chuvosa que banha corações, fuga conhece, o impossível, o dia que repousa, nome no lago secreto.
Muitos grãos de memória flutuam, sangue inquieto, tua verdura ainda é verde e seus frutos pesam sobre a terra.
Toda a terra, como filho, pesa para uma mãe, sabe de onde veio, mas tem o futuro como peso.
Invisíveis coisas que pensamos não existir, mãe que sabe dar à luz, mas não iluminar o mundo.
Levo-te na espada mais angulosa, superfície essencial, um deserto, a noite para os astros, silêncio na música.
Sem começo, sem fim, na porta da tua casa, conjugo, sinfonia abafada, vésperas e um dia que brilha.
O resumo fiel de uma vida longa, margens impulsivas, tua carne arde, pressinto a juvenil presença.
Fome e sede, este mundo, um pote, horas na mesa. Aperto-lhe a sombra, invisível se faz carne.
Subo as escadas como outra vida tatuada em meu coração.