CLARIVIDÊNCIA

Pra te escrever em mim

Precisei ser caneta

Ser letras

Ser papel

Precisei ser abelha e ser mel

Consoantes vazias

Rosto sem véu

Pra te escrever em mim

Precisei ser andorinha

Asas de poemas sem linhas

Sem vírgulas

Sem reticências…

Sem coincidências

Pra te escrever em mim

Precisei ser teus gestos

Teu manifesto

Teu objeto direto

Teu espectro

O resto do teu pão crucificado

A fome de teus pecados

Pra te escrever em mim

Precisei ser teu feto

Teu afeto

Teu deserto

Os teus erros cronometrados

O verniz alcoolizado

De tua derme

Do suor de tua febre

Pra te escrever em mim

Precisei da luz dos vagalumes

Pra acender teu escuro

E pular o muro

Que dá pro quintal

Do luxo dos teus murmúrios

Da tua sala de estar

Onde sempre estarás

A escrever por mim

Do primeiro ao último fim.

Fasa
Enviado por Fasa em 12/09/2023
Código do texto: T7884162
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