CLARIVIDÊNCIA
Pra te escrever em mim
Precisei ser caneta
Ser letras
Ser papel
Precisei ser abelha e ser mel
Consoantes vazias
Rosto sem véu
Pra te escrever em mim
Precisei ser andorinha
Asas de poemas sem linhas
Sem vírgulas
Sem reticências…
Sem coincidências
Pra te escrever em mim
Precisei ser teus gestos
Teu manifesto
Teu objeto direto
Teu espectro
O resto do teu pão crucificado
A fome de teus pecados
Pra te escrever em mim
Precisei ser teu feto
Teu afeto
Teu deserto
Os teus erros cronometrados
O verniz alcoolizado
De tua derme
Do suor de tua febre
Pra te escrever em mim
Precisei da luz dos vagalumes
Pra acender teu escuro
E pular o muro
Que dá pro quintal
Do luxo dos teus murmúrios
Da tua sala de estar
Onde sempre estarás
A escrever por mim
Do primeiro ao último fim.