O silêncio das horas
As horas passam de tal modo silenciosas
Que, se não fossem os ponteiros do relógio,
Passaria-se a vida inteira sem que eu notasse.
Os ponteiros revelam-me as horas perdidas e as que sobram,
Mas eu não ouço, sinto ou vejo os minutos passarem.
Ouço, vejo e sinto apenas os ponteiros, o tic-tac em looping.
Dizem que a hora vive no relógio e é dele refém,
De tal modo que, sem ele, o tempo se perde em um limbo,
Sobrando apenas algo indefinido que nos move sem nos tirar do lugar,
Algo que não cabe em segundos, minutos ou horas.
Talvez o verdadeiro tempo, livre da ilusão dos relógios que tentam aprisioná-lo.