GOZADOR INVETERADO

O tempo é um gozador inveterado,

fazendo estrepolias com a gente sem cansar,

virando do avesso nossos destinos sem dó.

É mandatário eterno dos chãos, dos ventos, das marés,

e de tudo mais.

De suas rédeas escorrem medos, dúvida, fé.

Do seu dorso emana a folia de viver, de querer-bem.

Esse tempo que esgarça a saudade e rodopia a paixão,

deixa as fronhas da dor num banho-maria insano,

desafia os guizos dos sonhos, desenlaça a verdade,

faz o certo estrebuchar até não poder mais.

No tempo de muitas rimas que enlouquecem, muitos senões que desfrutam,

as coisas se descabelam fio a fio, suor a suor, coração a coração,

até aquele ponto de fervura sem gosto de fralda, ou de paixão,

desnudando seus ferrolhos, dissipando o mofo, desfazendo o feto.

Daí vem um tempo sarado, limpo, reluzente, acolhedor,

sorrindo até rasgar a pele, até cessar o galope atroz que tanto ardia,

tanto pedia perdão sem nunca ter sido sequer ouvido,

só pra fazer vingar um tempo desanuviado, de vigor até o talo,

tudo isso pra soarem as trombetas da luz, da fronte divina, da alegoria devida,

e assim podemos voar em paz, até sempre.

Até sempre.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 09/09/2023
Reeditado em 09/09/2023
Código do texto: T7881845
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