Instinto

Um casebre antigo onde toda sua arquitetura puxava-se para uma ruptura do neo-romantismo com o contemporâneo, aliás seu antigo e ainda proprietário sabia que casas novas foram feitas para abrigar milhares de pessoas em um sentindo prático de acomodação esbarrando em uma forte inclusão coletiva, mas qual seria o sentido de uma casa igual a todas as outras? Perguntou o primeiro interlocutor.

Seguindo sobre a reflexão de que conjuntos habitacionais são extremamente parecidos e a única coisa que o não exprime a singularidade seria os móveis que se encontram por dentro da casa, já que fora o inquilino e alguns amigos do tal saberia os "bens" que cada casa carrega dentro de si, surgindo assim uma reflexão da isonomia humana onde todos somos iguais em condição animalesca e farreira. A partir dessa ideia central percorreu revoluções, slogans com o informativo: a massa é o que nós somos.

O homem é um bicho como todos os outros. Esses dizeres foram ecoando entre os becos insinuando que a forma mais agradável para uma evolução seria a coletiva.

Surgiram milhares de prédios no estilo "ajuda governamental", com famílias necessitadas na rua ao lado da velha casa e em ato de resistência ou falta de comprador o antigo dono manteve a mesma velha roupagem da casinha o que gerou indignação por parte de um morador do prédio, eis que iniciou-se um mutirão de dez pessoas em um protesto reto contra a casa e puxando o discurso começou o incomodado:

Nós como povo deste estado dotados de dignidade e empatia sabemos que uma casa velha é um desperdício, infringindo a natureza, se todos pensarem assim o declínio para extinção se aproximaria, todas as raças estariam perdidas, portanto diga não ao egoísmo e sim a virtude coletiva...

Nunca ouvi-se tantos gritos entre dez pessoas ao ponto da casa permanece em inércia, no dia seguinte veio o ato mais pioneiro do mundo um abaixo assinado com carimbo do centro comunitário da cidade informando sobre os benefícios de uma venda, o velho dono leu a correspondência somente de primeira mão, contudo ouve uma euforia de fúria dentro de si, ele planejou de forma até maquiavélica uma ação mal pensada a qual no dia seguinte ele pegou entrou em contato com o centro comunitário e exigiu uma reunião com as pessoas que não desejavam sua casa ali e assim foi encaminhado e realizado o seu desejo.

Pois bem aqui estamos de maneira formal e contundente os moradores do novo prédio mais o dono da antiga casa e em ponto de debate quero dar a palavra a quem faz a queixa a residência.

levantando o primeiro morador a se incomodar com a situação da antiga casa falou :

O mundo globalizado e totalmente singelo na sua forma fluida em trato com gêneros, raças, expressões filosóficas e quaisquer tipos de crenças pede ajuda meus caros...

Somos seres imaculados por ventanias de todos os Deuses, crianças e adultos, nós somos o presente, o passado e o futuro, estamos aqui não somente pela velha casa, mas por todos os ideais de uma vida conjunta....

Alguns em baixo tom comentavam entre si quão grande orador era o danado enquanto o mesmo gesticulava como um italiano na frente do espelho, todo serelepe, elétrico finalizava dizendo que para os cristãos Deus morreu por todos, para Allah Maomé enviou um anjo, para todo princípio existe o nós.

Saindo do pequeno palanque aplaudido de pé com todos lisonjeados por ter escutado tamanha força na voz veio o dono da casa que falou: Agora é minha vez puxando uma nove milímetros dando três tiros no homem que acabou de discursar e se matando.

Renato Narciso
Enviado por Renato Narciso em 09/09/2023
Reeditado em 21/09/2023
Código do texto: T7881664
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