abandono
Diante desse sonho, não me resta senão a renúncia,
A fome cresceu quando as portas estavam cerradas,
Rumores, o estrangulador de palavras, vagueava onde um diário
Foi descoberto, supomos que
As sombras assediaram a juventude,
Tornando-a assombrada, seu destino moldado
Para que outros possam conhecer o seu terror.
Ela amou naquela noite e o amante,
Um transeunte mascarado, ela apenas guardou
O lenço e o perfume que se evapora nos dias que se amontoam,
A janela discretamente entreaberta e lá fora, tempestades
Não têm sede, sangram à beira do horizonte,
E quando o dia amanhece, o céu já ocultou o feito consumado,
E o sol desvia as agruras, e todos bebem da mesma água
De um cântaro envelhecido.
Ela amou por uma noite,
Guardou as estrelas e a lua de sangue ardente,
O frio da madrugada, abraçada, segura, foi amada
À beira de um calabouço, uma fenda na existência,
Tudo foi entregue, a pele ainda quente aquece e fervilha
No pensamento puro,
Para o futuro, o homem que está sendo gerado
No ventre, um dia com o amante, a delicada indelicadeza do abandono.