a carne rara
A noite se torna concreta, a verdade mais precisa,
É o cárcere onde o dia começa, a noite sem expansão,
E o dia, na totalidade da noite, é mais raro que um diamante,
E nesse instante, essa mulher emerge na cabeceira,
Tão forte quanto uma formiga que carrega uma folha gigante
No espaço que gira, e a vemos, tocamos suas mãos, como hera
Que, mesmo na terra, já nos embriaga, olhos, vasos
Comunicantes com braços alados, e a cabeleira negra
Árvore centenária no coração da memória, onde guardamos
O que podemos ver, o diamante retorcido em forma fértil e macia,
Seios entumecidos, giradores de pensamento, o desejo
Se coloca sobre a mesa, viramos o gim, as goelas sofrem com
A brasa que antecede o ato que a noite silenciosamente prepara,
Eu lhe digo, areia, ela é vento, digo amor, ela respira pão, então
Seus olhos são bagos insaciáveis e delírios, carne se desfaz entre
Os dedos e a vertigem que desemboca no lago, profundamente, a pele se inflama,
E somos pó e ferro, e um ferreiro forjando o prazer indecoroso,
O fel da doçura nos escapa e nos devolve a imagem
De uma flor, um derramamento fulgurante, corredeira,
Nossas mãos se entrelaçam, e a língua em outra língua, a mão na outra mão,
Nos amparamos para não sucumbirmos nesse mundo que termina,
A porta envernizada reflete a sombra de uma luta inviolável.