A MÃO DE DEUS
A mão de Deus assusta, permeia, rege.
Ela arrasta, festeja, acarinha.
Também revira, dissipa, faz.
A mão de Deus desbrava, destitui, destila.
Ela condensa, digere, desmata.
Também encanta, desnuda, opera.
A mão de Deus é dura, é complacente, é sagaz.
Tem rastro, tem raiz, tem razão.
É silenciosa, meticulosa, apurada.
A mão de Deus é faminta, é nervosa, é impaciente.
Tem ecos, tem segredos, tem vielas.
É destemida, é farta, é luz.
A mão de Deus tem alma, tem rebarba, tem dono.
É sorrateira, é alvissareira, é pura.
Tem raça, tem medo, tem fé, tem rei.
A mão de Deus rodopia, desespera, destrona.
É gigante, é esvoaçante, é triunfal.
Faz reluzir, faz reencontrar, faz parir.
A mão de Deus congrega, alimenta, aquece.
Esgarça, desnorteia, deflagra.
Ecoa, embala, esvoaça.
Na mão de Deus entendo, acato, amanso.
Nela me faço, me traduzo, me abasteço.
Nela a razão sorri, o medo se cansa, a dor parte de vez,
o bom pousa, o gostoso abraça, a certeza aconchega,
o breu fica lindo.