A MÃO DE DEUS

A mão de Deus assusta, permeia, rege.

Ela arrasta, festeja, acarinha.

Também revira, dissipa, faz.

A mão de Deus desbrava, destitui, destila.

Ela condensa, digere, desmata.

Também encanta, desnuda, opera.

A mão de Deus é dura, é complacente, é sagaz.

Tem rastro, tem raiz, tem razão.

É silenciosa, meticulosa, apurada.

A mão de Deus é faminta, é nervosa, é impaciente.

Tem ecos, tem segredos, tem vielas.

É destemida, é farta, é luz.

A mão de Deus tem alma, tem rebarba, tem dono.

É sorrateira, é alvissareira, é pura.

Tem raça, tem medo, tem fé, tem rei.

A mão de Deus rodopia, desespera, destrona.

É gigante, é esvoaçante, é triunfal.

Faz reluzir, faz reencontrar, faz parir.

A mão de Deus congrega, alimenta, aquece.

Esgarça, desnorteia, deflagra.

Ecoa, embala, esvoaça.

Na mão de Deus entendo, acato, amanso.

Nela me faço, me traduzo, me abasteço.

Nela a razão sorri, o medo se cansa, a dor parte de vez,

o bom pousa, o gostoso abraça, a certeza aconchega,

o breu fica lindo.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 08/09/2023
Código do texto: T7880521
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