mais alto
Ao sentir que eu habitava em ti, o devaneio,
Ternura incandescente, somos da mesma safra,
Do mesmo rio onde nas pedras a corrente se fragmenta.
Silenciosamente, mostrei-lhe uma paisagem,
Noturna, flora encharcada que inunda o âmago
Daqueles cuja escapada dança o inverossímil, quem
É, como o éter, teu nome flutua na superfície
Líquida do meu lago mais abissal, onde infindas
Partículas de lembrança flutuam quando o líquido
Nunca repousa, tua exuberância ainda é efervescente,
Sabe ofuscar, mas não que ela incendeie
O cosmos integral. Carrego-te em minhas asas,
E mais acima, a superfície caleidoscópica é como
Um abismo, sem início, sem término, que jamais
Existiu, onde tudo se dissolve como se tudo fosse,
E orquestro na soleira da tua morada a mesma dissonância
Que aprendi a amplificar. Cedo-lhe alguns momentos,
O sinopse onírico de uma existência vasta, margens alucinadas,
Tua carne arde, e pressinto derramar a efêmera
Presença de quem nunca soube se deixar. Abraço-lhe
A sombra e nos consomem, o invisível se torna carne,
Subo as escadarias como outra vida tatuada em meu
coração
-------------------------------------------------------------
Ao saber que eu estava em ti, o mistério,
Ternura despertada, somos da mesma colheita,
Do mesmo rio que nas pedras a corrente quebra.
Silenciosamente, mostrei-lhe uma paisagem,
Noturna, flor chuvosa que molha o coração
Daqueles cuja fuga já conhece o impossível, quem
É, como quem dia, teu nome jaz na superfície
Lisa do meu lago mais secreto, onde tantos
Grãos de memória flutuam quando o sangue
Não se aquieta, tua verdura ainda é verde,
Sabe dar candeia, mas não que ela ilumina
O mundo inteiro. Carrego-te nos meus ombros
E mais no alto, a superfície verdejante é como
Um deserto, sem começo, sem fim, que não
Existe, onde nada escorre como se algo fosse,
E conjugo na porta da tua casa a mesma sinfonia
Que aprendi a abafar. Dou-lhe alguns minutos,
O resumo fiel de uma vida longa, margens impulsivas,
A tua carne arde, e pressinto derramar a juvenil
Presença de quem não soube crescer. Aperto-lhe
A sombra e nos engasgo, o invisível se fez carne,
Subo as escadas como outra vida tatuada no meu
coração.