mais alto

Ao sentir que eu habitava em ti, o devaneio,

Ternura incandescente, somos da mesma safra,

Do mesmo rio onde nas pedras a corrente se fragmenta.

Silenciosamente, mostrei-lhe uma paisagem,

Noturna, flora encharcada que inunda o âmago

Daqueles cuja escapada dança o inverossímil, quem

É, como o éter, teu nome flutua na superfície

Líquida do meu lago mais abissal, onde infindas

Partículas de lembrança flutuam quando o líquido

Nunca repousa, tua exuberância ainda é efervescente,

Sabe ofuscar, mas não que ela incendeie

O cosmos integral. Carrego-te em minhas asas,

E mais acima, a superfície caleidoscópica é como

Um abismo, sem início, sem término, que jamais

Existiu, onde tudo se dissolve como se tudo fosse,

E orquestro na soleira da tua morada a mesma dissonância

Que aprendi a amplificar. Cedo-lhe alguns momentos,

O sinopse onírico de uma existência vasta, margens alucinadas,

Tua carne arde, e pressinto derramar a efêmera

Presença de quem nunca soube se deixar. Abraço-lhe

A sombra e nos consomem, o invisível se torna carne,

Subo as escadarias como outra vida tatuada em meu

coração

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Ao saber que eu estava em ti, o mistério,

Ternura despertada, somos da mesma colheita,

Do mesmo rio que nas pedras a corrente quebra.

Silenciosamente, mostrei-lhe uma paisagem,

Noturna, flor chuvosa que molha o coração

Daqueles cuja fuga já conhece o impossível, quem

É, como quem dia, teu nome jaz na superfície

Lisa do meu lago mais secreto, onde tantos

Grãos de memória flutuam quando o sangue

Não se aquieta, tua verdura ainda é verde,

Sabe dar candeia, mas não que ela ilumina

O mundo inteiro. Carrego-te nos meus ombros

E mais no alto, a superfície verdejante é como

Um deserto, sem começo, sem fim, que não

Existe, onde nada escorre como se algo fosse,

E conjugo na porta da tua casa a mesma sinfonia

Que aprendi a abafar. Dou-lhe alguns minutos,

O resumo fiel de uma vida longa, margens impulsivas,

A tua carne arde, e pressinto derramar a juvenil

Presença de quem não soube crescer. Aperto-lhe

A sombra e nos engasgo, o invisível se fez carne,

Subo as escadas como outra vida tatuada no meu

coração.