Os meus olhos me traem...

Os meus olhos me traem

Furtam instantes de faces alheias

Sobre passadas no tempo

Ente múltiplos sentimentos

Os meus olhos me traem

Quando volto a cabeça para o seu corpo

E os seus seios sob o lençol

No olhar secreto do desejo

No beijo guardado de ontem

Os meus olhos me traem

Indo e vindo no destino

No caminho por entre outros olhos

Naquela respiração suspensa

No canto esquerdo da boca

Os meus olhos me traem

Quando atraem outro olhar furtivo

Que como o meu a tudo observa

Sem gerar, nem dizer nada

Os meus olhos me traem

Em todos os dias e noites

Trocados de lado e de longe

Na vista da revista

Suspeito como um pequeno criminoso

Furtando um pensamento

Os meus olhos me traem

Como nunca ninguém pode imaginar

Esperando não ser correspondido

Para não corar feito criança

Na vergonha do olhar proibido

Os meus olhos me traem

Quando se percebe o ódio nos rostos alheios

O seu cansaço fatigado

A sua embriaguez desprovida de razão

Com a loucura da estupidez

Os meus olhos me traem

Temerosos do choque trágico

Da pergunta enrustida

Da indiscrição maldita

Os meus olhos me traem

Na curiosidade do observador

Do vício incontido que quer saber mais

De instigar o desconhecido

Indo contra muitos valores

Atacando o que conserva a mediocridade

Os meus olhos me traem

Como um espinho

A fita tímida que separa as pessoas

Que constroem uma barreira idiota

Na carranca sobre o novo

Os meus olhos me traem

Pois, suspeito sempre vou ser

Observador por natureza

Da natureza das coisas e dos sentimentos

Da vida sobre a vida, sobre a vida

Sendo o não olhar uma traição maior

Contra o senso da minha lógica

Por isso, os meus olhos sempre me traem

Atraindo a expectativas

De algum, algo, ou alguém, nem sempre colocado em prática

De muitas vontades reprimidas

De desejos escondidos

Sem muito tempo para descobertas

Pois as pessoas passam

O tempo passa primeiro

E mesmo o instante capturado

Pelo meu olhar vigilante

Muito se perde na pressa da hora

Hora que muitos não prendem

Por medo de perder o trem da vida

Ficando eu com meu olho traidor

Apenas observando

Pequenas partículas de tantas vidas pulsantes que cruzam à minha

frente e que nem sempre olham para trás.

Peixão89

Peixão
Enviado por Peixão em 25/03/2005
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