tempos

Aos 49 anos, a vida se despe do ser,

Deixando vestígios nos camarotes festivos,

Um céu cheio de auroras etéreas.

Ela, escuridão fluida, como esta poltrona que se move

No silêncio envolvente, tudo se entrelaça à fugaz luz de

Sangue que a idade permite assimilar.

Não cruzamos o lago apenas para erguer as mãos ao astro;

Atravessamos o caminho porque os anos nos dotaram de discernimento,

Para que todos se acumulassem na carne sem memória,

Na fila tranquila da memória fragmentada, sempre:

Ou na fechadura que jamais desvenda seu segredo,

E cuja chave é uma invenção dos amantes que se afogaram,

Assim como a cama destaca-se no casal desejado.

Sobre as casas, o céu se declara sereno, e a quietude

Arrasa os jardins, onde outrora éramos como jogadores de xadrez em trajes,

Demarcando o território mais opulento.

Assim, aves cortam o céu sobre a cidade e as crianças,

Com olhos perspicazes, transportam os desaparecidos

Que residiam nas coisas inertes. Então, nos entrelaçamos

Na vastidão, no campo inexorável, onde uma jovem incessantemente renasce

Quando seu nome é oferecido à fogueira,

E essa meia-luz preservada nas veias do corpo se encarna na árvore mais alta,

Onde seus frutos explodem em quedas.

Aos 49 anos, o temor se dissipa e se desfaz,

Como uma rosa que floresceu na chama.

É um coração que deve imperativamente continuar,

Pois o retorno é longo, e a memória é uma catedral misteriosa.

Aos 49 anos, e os anos nem sabem que existem,

Deixaram nas arquibancadas festivas os pedaços de um

Céu preenchido com auroras aquosas dos tempos.

Ela era um sol líquido, como esta cadeira que desliza no

Silêncio entorpecido, tudo se conecta com a fugaz luz de

Sangue que a idade permite engolir. Não atravessamos

O lago apenas para erguer as mãos para o sol; atravessamos

O lado porque os anos nos deram lâminas e candelabros para que todos esses

Anos se acumulassem na carne sem memória, na fila entorpecente

Da memória fragmentada de uma vida, sempre: ou na fechadura

Que nunca revela seu segredo, sua chave é uma invenção dos

Amantes do infinito, assim como a cama se destaca no casal que se deseja,

E sobre as casas, o céu se diz sereno, e uma infecunda solidão

Desola os quintais, onde antes, éramos enxadristas de fraque,

Desenhando o terreno mais voluptuoso.

Assim, inúmeras e assombrosas aves

Voavam sobre a cidade e as crianças, com olhos virgens, carregavam nos olhos

Os mortos que habitavam as coisas inertes. Então, adentrávamos

A vastidão, o implacável campo, onde uma menina sempre renascia

Quando seu nome era lançado à fogueira, e essa penumbra guardada

Nas veias do corpo encarna na árvore mais alta, onde seus frutos explodem

Em quedas.

Aos 49 anos, o medo se abre e se desvenda, como uma rosa

Que brotou na chama. É um coração que precisa prosseguir, pois o regresso

É longo, e a memória é uma catedral assombrada.