uma estrada
Oferece-me uma estrada encharcada de sol, um sol
Insanamente escaldante, porém a brisa que colore
Os arbustos com sua fluidez, transformando-os em
Inúmeras bandeirinhas de festa, que me permita entender
Que a vida é um constante devir, enquanto a saudade,
Remetente misteriosa, devora minha carne, agonia
Indefinida que nos une na mesma relva do hoje encadernado
No ontem, concede-me uma vereda onde uma jovem,
À beira de tornar-se mulher, perambula com
Roupas frescas, como se a brisa pudesse compreender mais
Do que as vestes revelam, onde possa seguir para o sul ou
Para o norte, uma estrada que seja a entrega da vontade
Às pernas, mas também à sorte, onde abrigos amorosos
Se enraízem nas margens, com palmeiras, mangueiras,
Com pessoas sentadas em fila, anunciando as superfícies
Dos riachos, que tenha a linguagem que flui pelo
Invisível, que torne simples dizer o que parece inatingível,
Estrada poética de margens que se alargam de acordo com
A fome, a nossa vontade ou necessidade, onde possamos
Abrigar o outro, todos os outros, que compreendam que do imperfeito
Que adorna as coisas, que faz do real uma árvore completa,
Que saibamos amar, não cegamente, mas com o coração,
Onde todas as cores ondulam, convergindo para algo
Que nos recorda o mesmo tom, uma vida viva, que arde
Silenciosamente, que saibamos das sombras, refúgio
E não enigma ou barricada, que tenhamos corpos vastos,
Com olhos vastos, tão vastos quanto o cosmos que
Nos nutre, uma estrada, nem profana nem sagrada,
Mas humana, simples e eloquente, mágica e não assombrada
uma estrada, somente uma estrada, que ame e seja amada