Insatisfação
Não há verbo que consiga expressar
Toda forma e cor da nossa insatisfação
Mas por isso não precisamos recantar
“Caminhando e cantando e seguindo a canção”
Esse tempo deve ficar para trás
Há mais luta, mas nunca é em vão
Para acordar e poder se falar em paz
Para dizer sobre a livre expressão
Rezo para todo e qualquer um
Que possa andar sem preocupação
Mas que não reste o incomum
E o medo da justiça da própria mão
Eis que o tempo poderá seguir
E ser muito tarde para sair da escuridão
Ao sonhar com o dia a surgir
Ao cair na tirania de qualquer vilão
Qualquer um que tenha luz
Seja anjo ou santo ou lampião
Leve essa carta ao pé da cruz
Ainda que não reste mais sermão
Pois ser livre está ficando caro
E eu temo até meu próprio irmão
Ao ouvir qualquer som de disparo
Ao acreditar ser a única solução
Voto pelos deuses mais antigos
Que poderiam ver além da destruição
Talvez procurar paz para os perigos
Que rodeiam a toda civilização
Queria que essa carta fosse aos “istas”
Fascistas, artistas, turistas então
Para abrir os olhos para novas pistas
Para procurar uma nova união
A qualquer ser desse universo
Peço que preste a mais pura atenção
Em cada linha pobre e verso
Dessa minha maldita canção
Não há vida aqui inteligente
Volte, pois estão na contramão
Para o retrocesso em forma de gente
Para a mais porca dimensão
Espero que o tempo ainda ensine
Antes de o inferno tomar a razão
E talvez a histeria enfim termine
E pare de gritar contra toda estação
Ainda há esperança que algum dia
Todos se curvem sem pretensão
Ao alvorecer da fantasia
Ao solo frenético de um violão