Confissões de um gênio sem lâmpada
Eu devia saber ortografia...
mas “errar” o erro do meu dia,
não me torna redundante,
nem reduz a poesia,
só aumenta o meu brio!
Não é porque navego contra a jusante,
que significa que não sei o curso do meu rio...
tão aventureiro... tão louco navegante!
Escrevo um poema na lareira
tão quentinho, com erros à torto e a direita...
mas o que ele diz sobre mim?
Se sou toda a página inteira
que tu negas em outras páginas inteiras
do meu livro sem fim!
Tu me veste com essa tua educação
tão cheia de acertos, de grandes artifícios,
mas que humana ação...
dócil, grácil,
tu ensinas, com esse teus ossos de ofício?
Se o mundo é da criação...
por que calas o meu gênio fácil
com o teu gênio forte e difícil?
Eu repito as mesmas combinações
do teu cofre de equívoco!
Decoro, sou teu lúgubre ventríloquo,
e sendo ele, sou o triste dos vagões.
Eu sou aquela foto que tiraste,
escura, sem cor, sem arte...
E a nota que me deste, me fez o traste,
quando o que queria era só uma parte
das notas musicais, que tu me tiraste
entre risos alheios, nuances da minha dor...
eu era cor,
agora sou apenas contraste.
Eu me comporto como o louco
que tu reprimiste no panteão e no papel!
Me conforto com tão pouco,
penteando a juba do burguês-leão
calando o peito com mais pão
amassado na boca do cão, mas feito no céu...
Ah... o céu, eterna morada do tempo!
Nele inverna a mordaça do teu templo...
Em que sou, para sempre, o teu réu!
Eu que era são...
sou louco demais para ver o gênio
que tu mataste (em mim) sem oxigênio
enquanto, eu, rosnava como um cão
por todo o meu milênio!
Tu que devia ser os meus fios de cobre
e canalizar toda essa minha eletricidade,
para que eu fosse a cidade...
que se ergue, o que se sabe, o que se sobe,
Eu ? Eu que sobre...
nas sombras do meu professor...
que com horas-extras para depois das pedras do arpoador...
Me tomou!
Me tornou...
neste algo tornado,
sem torno, sem terno,
sou mais uma boca d'um fogão Arno.
@sr.poetrus
Ronald Castelo Branco (Teresina-PI)
27/08/2023.